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Gentileza-gera-gentileza

E-mail: gentilezageragentileza.t2001@gmail.com

+ Frases

 

"Não me agrada a gentileza que me pesa." (Horácio)

"Somos sempre aptos à gentileza para com pessoas que não nos interessam." (Oscar Wilde)

"A gentileza de um coração dedicado não conhece limite."
(Publílio Siro)

"Nenhum gesto de gentileza, por menor que seja, é perdido." (Esopo)

"Se um homem é gentil com desconhecidos, isto mostra que ele é um cidadão do mundo, e que seu coração não é uma ilha que foi arrancada de outras terras, mas um continente que se une a eles." (Francis Bacon)

"Não quero que as pessoas sejam muito gentis; pois tal poupa-me o trabalho de gostar muito delas." (Jane Austen)

"Palavras gentis podem ser curtas e fáceis de falar, mas os seus ecos são efetivamente infinitos." (Madre Teresa de Calcutá)

"Um cumprimento gentil e delicado muitas vezes cria amizade, apaga a inimizade." (Erasmo de Rotterdam)

"Gentileza recebe-se com gentileza." (Cícero)

"Aprendi silêncio com os falantes, tolerância com os intolerantes, e gentileza com os rudes ; ainda, estranho, sou ingrato a esses professores." (Kalil Gibran)

"É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada." (William Shakespeare)

" Assim como o sol derrete o gelo, a gentileza evapora mal entendidos, desconfianças e hostilidade." (Albert Schweitzer)

"Deus me deu um coração que ama
Alguma tristeza
Destreza e champagne..
Quanta gentileza!"
(Cazuza)

 

"A gentileza é a essência do ser humano. Quem não é suficientemente gentil não é suficientemente humano." (Joseph Joubert)

 

"Nunca é cedo para uma gentileza,
porque nunca se sabe quando
poderá ser tarde demais."
(Ralph Waldo Emerson)

"A gentileza faz com que o homem pareça exteriormente, como deveria ser interiormente." (Jean de La Bruyère)

"Viva com simplicidade.
Ame generosamente.
Cuide-se intensamente.
Fale com gentileza.
E, principalmente, não reclame.
Se preocupe em agradecer pelo que você é, e por tudo o que tem!
E deixe o restante com Deus."
(Kelly Fagundes)

"Sou maluco para te amar e louco para te salvar.(Profeta Gentileza)

"Aprendi o silêncio com os faladores, a gentileza com os rudes, e, a tolerancia com os intolerantes; e, ainda, estranho, sou ingrato a esses professores!!"(Calil Gibran)

 

"Onde houver gentileza,
haverá sempre um
gesto que surpreenda.
Amor se esconde
nas coisas pequenas.
E a amizade,
nas atitudes que refletem
maiores que a presença."
(Patty Vicensotti)

"Nunca ofendas verbalmente o teu inimigo. Doi muito mais uma gentileza vociferada do que uma ofensa impensada." (Jeocaz Lee-Meddi) 

"Gentileza é, em tese, o que todas as mulheres procuram nos homens. Mas na prática, homens, não exagerem na dose, pois elas vão enjoar de vocês."(Carlos Gatto)

"Respeito é gerado pela dignidade tranqüila, pela autoconfiança e urbanidade (cortesia, gentileza, delicadeza, civilidade). Ele é assassinado pelo torcer das mãos, pelo rastejar no pó e pelas suplicas melodramáticas." (Belkis Braz)

"Gentileza gera gente... ilesa." (Demétrio Sena - Magé - RJ.)

"Práticas de Criação da Felicidade

Do momento da gentileza altruísta
A uma pessoa qualquer, seja ela quem for
Até o sorriso e agradecimento da mesma...
Satisfação mutuamente realizada
E desconhecida por seres infelizes." 
(Felipe Miralha da Silveira)

 

“As grandes oportunidades de nossas vidas são geradas por uma coisa sem despesa: a gentileza!” (Desconhecido)

Tipos de Gentileza

tratar as pessoas como gostaria de ser tratado.
(Gentileza enviada por Adriana Francisco da Silva - MG)
antes de tudo ter educação e respeitar o limite do outro.
(Gentileza enviada por Regina Torres)
parar o carro e deixar os pedestres atravessarem a rua, em dias de chuva.
(Gentileza enviada por Eliany Silva Ribeiro - ES)
sempre tratar a todos com respeito e educação.
(Gentileza enviada por Anny Correa Ferraro - SP)
pensar e fazer a melhoria da qualidade de vida da comunidade.
(Gentileza enviada por Alexandre - RJ)
saber se colocar no lugar do outro.
(Gentileza enviada por Maria Fernanda Raposo – RJ)
saber tratar todas as pessoas com respeito e consideração, independente da cor, sexo, religião e padrão social
(Gentileza enviada por Maria Fernanda Donati Veiga Raposo - RJ)
dizer olá e sorrir, olhando nos olhos do outro.
(Gentileza enviada por Luciano Pfeifer - SP)
aceitar o outro como ele é.
(Gentileza enviada por Fátima Paraguassú – GO)
dar um sorriso aos tristes.
(Gentileza enviada por Sérgio Augusto Costa da Silva – AM)
sorrir para as pessoas e cumprimentá-las mesmo
sem conhecê-las.
(Gentileza enviada por Cristiane Marino – PR)
não estacionar o carro na calçada. Priorize os pedestres sempre.
(Gentileza enviada por Eduardo Saggese – RJ)
respeitar a natureza. Por isso, não jogue lixo nas ruas, pois as lixeiras existem para isso.
(Gentileza enviada por Marcos Abraão - RJ)
fazer o bem sem olhar a quem.
(Gentileza enviada por Vanessa Avelar – RJ )

estar presente nos melhores e piores momentos de vida de um amigo, pois um amigo é para sempre.
(Gentileza enviada por Valeri Monteiro – RJ)
dar palavras de conforto até a quem você nem conhece.
(Gentileza enviada por Renata Vieira – AL)
saber respeitar o espaço e a individualidade do outro.
(Gentileza enviada por Ana Cristina Reuther – RJ)
ser gentil consigo próprio. Cuide-se! É o primeiro passo para outras gentilezas!
(Gentileza enviada por Maria Fernanda Veloso – RJ)
ter respeito pelo pessoal da "melhor idade".
(Gentileza enviada por João Pedro Noronha Bret - RJ)
dar a mão a alguém com dificuldades.
(Gentileza enviada por Manoel Fernando Santana Reis – BA)
não urinar na rua.
(Gentileza enviada por Janaíde de Paula – RJ)
dar sem esperar nada em troca.
(Gentileza enviada por Marina Epifanio – PR)
dar um bom dia sorridente para seus familiares, se possível todos os dias.
(Gentileza enviada por Katu - RJ)
cuidar dos animais com muito amor e carinho.
(Gentileza enviada por Michela Larissa da Silva Oliveira – BA)
devolver sua xícara de café naquelas praças de shopping, poupando a atendente de vir limpar a mesa, ao mesmo tempo deixando a mesa livre para o próximo.
(Gentileza enviada por Maria Luiza de Souza Coronel – SP)

se preocupar com o próximo.
(Gentileza enviada por Carolina – RJ)
não descarregar sentimentos negativos nas pessoas, como se todo o mundo fosse culpado por nossos desencontros.
(Gentileza enviada por Kerlâne Silva – PEJ)
amar e respeitar o próximo como a si mesmo.
(Gentileza enviada por Denise – SP)
ter consciência do espaço coletivo.
(Gentileza enviada por Janaína Santos da Silva – RS)
dar um abraço e dizer o quanto o outro é importante.
(Gentileza enviada por Altivo Cesar do Barreto - RJ)
ensinar aos seus filhos a importância de cuidar do meio ambiente.
(Gentileza enviada por Marcos Abraão – RJ)
desejar bom dia ao motorista de ônibus.
(Gentileza enviada por Sonique - MA)
se importar com os sentimentos do próximo.
(Gentileza enviada por Ileana Argollo - BA)
pensar nos outros antes de tomar certas atitudes. Não temos que ser egoístas. Um ato simples e gentil.
(Gentileza enviada por Luiz Felipe de Oliveira – RJ)
estender a mão quando precisa e transformar sorrisos em poesias; esquecer as diferenças e se entender na amizade.
(Gentileza enviada por Suzana Martins – BA)
ter a consciência de que ninguém caminha sozinho, pois sempre precisamos do próximo.
(Gentileza enviada por Márcia Figueirôa – PE)
acolher o próximo independente das suas diferenças.
(Gentileza enviada por Núccia Gaigher - MG)
dar atenção às pessoas ao seu redor para que elas sintam que realmente podem contar sempre com você.
(Gentileza enviada por Vera – BA)
esquecer seu ego e se doar por completo.
(Gentileza enviada por Mere Elen – RJ)
divulgar o site gentileza.net para que o mundo seja mais gentil.
(Gentileza enviada por Mirna Lívia Suiça de Lima - AL)
escutar o que o outro tem a dizer.
(Gentileza enviada por Luana – MG)
doar uma parcela do seu tempo para fazer o bem a quem precisa em hospitais, asilos, ruas, ou seja, lugares onde as pessoas necessitam de amor!
(Gentileza enviada por Simone – RN)
dizer para as pessoas que amamos, o quanto elas são importantes.
(Gentileza enviada por Marilza Maltempi – SP)

deixar seu carrinho de supermercado "estacionado" num local onde não atrapalhe os demais consumidores, enquanto você espera calmamente na fila da carne, do pão, dos frios, etc. Assim você colabora com a circulação e para a harmonia de todos.
(Gentileza enviada por Marcia – SP)
deixar de ver o defeito das pessoas e começar a ajudá-las, pois nós todos somos um só ser.
(Gentileza enviada por Vinicius Almeida – SP)
perguntar o nome do atendente (seja lá onde for) e, sempre que for precisar de alguma coisa, chamá-lo pelo nome!
(Gentileza enviada por Aline - BA)
pensar bem no peso de suas palavras. Antes de falar algo que possa ferir o outro, se imagine escutando isso de alguém. É um bom exercício.
(Gentileza enviada por Betty Sá – RJ)
pensar no bem de uma forma geral, é plantar o amor para colher o bem!
(Gentileza enviada por Maicon Castilho de Souza – RS)
ser amável e educado com todos!
(Gentileza enviada por Rosália da Rocha - RS)
cultivar a alegria.
(Gentileza enviada por Julia Manganelli – RS)
colaborar para a preservação do nosso planeta.
(Gentileza enviada por Ediane Dornellas – MG)
atender o telefone com alegria. Quem está do outro lado da linha não sabe o que está acontecendo contigo!
(Gentileza enviada por Daniella Debertolis – PR)
fazer uma oração silenciosa, agradecendo e cuidando dos bens que Deus nos deu.
(Gentileza enviada por Roseli de Araujo Gomes – SP)
perdoar como gostaria de ser perdoado.
(Gentileza enviada por Vânia Porto - SP)
espalhar boas ações e tratar as pessoas como nós queremos ser tratados, com amor respeito e gentileza, pois gentileza é tudo.
(Gentileza enviada por Michele e Natalia - RJ)
saber ouvir, saber falar, saber agir, saber calar... Ser gentil é saber doar sem cobrar.
(Gentileza enviada por Helayne Peres Cardoso – SP)
doar seu agasalho a quem precisa!
(Gentileza enviada por Marcia Mara Zanon Melo – MG)
dizer obrigado ao funcionario que pega suas malas no hotel.
(Gentileza enviada por Otavio Melo – SP)
cumprimentar mais... Sorrir mais... Abraçar mais...
(Gentileza enviada por Soraia Spolidório – SP)
pregar o amor, independentemente do que aconteça.
(Gentileza enviada por Luisa Takahashi Timotheo de Lima – RJ)
compartilhar o prazer de viver feliz com outras pessoas.
(Gentileza enviada por Mayara Lins – CE)

levar sua própria sacola quando for às compras. O meio ambiente agradece.
(Gentileza enviada por Ediane Dornellas – MG)
compartilhar tudo que sabe e aprender com humildade o que não sabe.
(Gentileza enviada por Magda Rúbia Chaves Bolentine - GO)
chegar na sala de aula e pedir licença se estiver atrasado.
(Gentileza enviada por João Alfredo - MG)
não ser preconceituoso e não julgar ninguém pela aparência.
(Gentileza enviada por Giovanna – MG)
fazer um grande favor ao outro, sem ter em mente recebê-lo de volta.
(Gentileza enviada por Kelson Gérison Oliveira Chaves – CE)
realizar negócios com responsabilidade social.
(Gentileza enviada por Alexander Nascimento – RJ)
facilitar a sua vida e a dos outros.
(Gentileza enviada por Nanda Botelho – PE)
compartilhar o sofrimento dos nossos irmãos.
(Gentileza enviada por Zelia – SP)
tratar bem os funcionários ou colegas de trabalho, pois isso gera qualidade e motivação no ambiente de trabalho.
(Gentileza enviada por Poliana Botario - PR)
respeitar a experiência dos mais velhos, a audácia dos mais novos e, assim, sempre perdoar.
(Gentileza enviada por Bruna Ianini – MG)

Introdução

José Datrino, chamado, Profeta Gentileza (Cafelândia, São Paulo, 11 de abril de 1917 – Mirandópolis, São Paulo, 29 de maio de 1996) tornou-se conhecido a partir de 1980 por fazer inscrições peculiares sob um viaduto no Rio de Janeiro, onde andava com uma túnica branca e longa barba.

Sua infância

Nascido em Cafelândia – SP, no dia 11 de abril de 1917, José Datrino, com mais nove irmãos, teve uma infância de muito trabalho, quando lidava diretamente com a terra e com os animais. Para ajudar a família, puxava carroça vendendo lenha nas proximidades. O campo ensinou José Datrino a amansar burros para o transporte de carga. Tempos depois, como Profeta Gentileza, dizia-se “amansador dos burros homens da cidade, dos que não tinham esclarecimento”. Desde sua infância, José Datrino era possuidor de um comportamento atípico. Por volta dos 12 anos de idade, passou a ter premonições sobre sua missão na Terra: acreditava que, um dia, depois de constituir família, filhos e bens, deixaria tudo em prol de sua missão. Esse comportamento causou preocupação em seus pais, que chegaram a suspeitar que o filho sofria de algum tipo de loucura e a buscar a ajuda de curandeiros espirituais.

Surge o Profeta Gentileza

No dia 17 de dezembro de 1961, na cidade de Niterói, houve um grande incêndio no circo Gran Circus Norte-Americano, o que foi considerado uma das maiores tragédias circenses do mundo. Nesse incêndio, morreram mais de 500 pessoas, a maioria crianças. Na antevéspera do Natal, seis dias após o acontecimento, José acordou alegando ter ouvido “vozes astrais”, segundo suas próprias palavras, que o mandavam abandonar o mundo material e se dedicar apenas ao mundo espiritual. O Profeta pegou um de seus caminhões e foi para o local do incêndio. Plantou jardim e horta sobre as cinzas do circo em Niterói, local que um dia foi palco de tantas alegrias, mas também de muita tristeza. Aquela foi sua morada por quatro anos. Lá, José Datrino incutiu nas pessoas o real sentido das palavras agradecido e gentileza. Foi um consolador voluntário, confortou os familiares das vítimas da tragédia com suas palavras de bondade. Daquele dia em diante, passou a se chamar José Agradecido, ou simplesmente Profeta Gentileza.


Após deixar o local, que foi denominado Paraíso Gentileza, o Profeta Gentileza começou a sua jornada como personagem andarilho. A partir de 1970, percorreu toda a cidade. Era visto em ruas, praças, nas barcas da travessia entre as cidades do Rio de Janeiro e de Niterói, em trens e ônibus, fazendo sua pregação e levando palavras de amor, bondade e respeito pelo próximo e pela natureza a todos que cruzassem seu caminho. Aos que o chamavam de louco, ele respondia: “Sou maluco para te amar e louco para te salvar”.

Os murais

A partir de 1980, escolheu 56 pilastras do Viaduto do Caju, que vai do Cemitério do Caju até a Rodoviária Novo Rio, numa extensão de aproximadamente 1,5 km. Ele encheu as pilastras do viaduto com inscrições em verde-amarelo, propondo sua crítica do mundo e sua alternativa ao mal-estar da civilização. Durante a Eco-92, o Profeta Gentileza colocava-se estrategicamente no lugar por onde passavam os representantes dos povos e incitava-os a viverem a gentileza e a aplicarem gentileza em toda a Terra.

Após sua morte

Em 29 de Maio de 1996, aos 79 anos, faleceu em Mirandópolis (SP) – cidade de seus familiares -, onde se encontra enterrado no Cemitério Saudades.


Com o decorrer dos anos, os murais foram danificados por pichadores, sofreram vandalismo e, mais tarde, foram cobertos com tinta de cor cinza. A eliminação das inscrições foi criticada, e, posteriormente, com a ajuda da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, foi organizado o projeto Rio com Gentileza, com o objetivo de restaurar os murais das pilastras. As inscrições começaram a ser recuperadas em janeiro de 1999. Em maio de 2000, a restauração foi concluída, e o patrimônio urbano carioca foi preservado.


No final do ano de 2000, foi publicado pela Editora da Universidade Federal Fluminense (Eduff) o livro Brasil: Tempo de Gentileza, de autoria do professor Leonardo Guelman. A obra introduz o leitor na “universo” do Profeta Gentileza através de sua trajetória, da estilização de seus objetos, de sua caligrafia singular e de todos os mais de cinquenta painéis criados por ele, além de trazer fatos relacionados ao projeto Rio com Gentileza e descrever as etapas do processo de restauração dos escritos. O livro é ricamente ilustrado com inúmeras fotografias, principalmente do Profeta e de seus penduricalhos e painéis. Além de fotos do próprio Profeta Gentileza trabalhando junto a algumas pilastras, existem imagens dos escritos antes, durante e após o processo de restauração.


Em 2001, o Profeta Gentileza foi homenageado pela escola de samba Acadêmicos do Grande Rio.


Em Conselheiro Lafaiete, cidade do interior de Minas Gerais, há um amplo trabalho do Profeta Gentileza. Foram desenvolvidas oficinas com jovens da cidade, nas quais foi possível repassar as técnicas de mosaico. Além disso, um grande muro no bairro São João recebeu uma linda aplicação de mosaico; e a praça São Pedro, no bairro Albinópolis, foi toda decorada seguindo o estilo do Profeta Gentileza.

O Profeta Gentileza nas artes

Gentileza foi homenageado na música pelo compositor Gonzaguinha, nos anos 1980, e também pela cantora Marisa Montes, nos anos 1990. As duas canções levam o nome Gentileza.


A canção de Gonzaguinha mostrava uma homenagem ao Profeta, como se vê no trecho: “Feito louco / Pelas ruas / Com sua fé / Gentileza / O profeta / E as palavras / Calmamente / Semeando / O amor / À vida / Aos humanos”. A canção de Marisa Monte, por sua vez, além de incentivar os valores pregados pelo Profeta (“Nós que passamos apressados / Pelas ruas da cidade / Merecemos ler as letras / E as palavras de Gentileza”), retrata os danos ocorridos contra os murais, como diz o trecho: “Apagaram tudo / Pintaram tudo de cinza / Só ficou no muro / Tristeza e tinta fresca”.


No ano de 2000, na cidade de Mirandópolis (SP), onde o profeta está enterrado, foi criada a primeira ONG da cidade, Gentileza Gera Gentileza, fundada por parentes e amigos que admiravam a filosofia de vida do Profeta. A ONG, além de lembrar a pessoa de José Datrino (Profeta Gentileza), em sua criação tem a missão de difundir educação e cultura em toda a região. Vários eventos foram feitos, como saraus mensais itinerantes, encontros de corais, tardes culturais para crianças no bosque da cidade, participações em eventos escolares e um evento anual denominado Gentileza Gera Gentileza, com música, teatro, poesia e dança, entre outros.


Em 2009, o Profeta Gentileza foi interpretado pelo autor Paulo José em Caminho das Índias, novela das 20h da Rede Globo, de autoria de Glória Perez, que aborda, entre outros temas, a loucura em seus vários aspectos – inclusive o social.

Gentileza, um Profeta que denuncia e anuncia

Como todo profeta, Gentileza denuncia e anuncia. Denuncia este mundo, regido “pelo capeta capital', que vende tudo e destrói tudo”. Vê no circo destruído uma metáfora do circo-mundo que também será destruído. Mas anuncia a “gentileza que é o remédio para todos os males”. Deus é “gentileza porque é beleza, perfeição, bondade, riqueza, natureza, nosso Pai Criador”. Um refrão sempre volta, especialmente nas mais de cinquenta pilastras com inscrições na entrada da Rodovia Novo Rio, no Caju: “Gentileza gera gentileza, amor”. Convida a todos a serem gentis e agradecidos. Na verdade, anuncia um antídoto à brutalidade de nosso sistema de relações. É precursor, sob a linguagem popular e religiosa, de um povo paradigma civilizatório urgente para toda a humanidade.


Houve um homem enviado ao Rio por Deus. Seu nome era José Datrino, chamado de Profeta Gentileza (1917-1996). Por mais de vinte anos, circulava pela cidade com sua bata branca cheia de apliques e com seu estandarte, pregava nas praças e colocava-se nas barcas entre Rio e Niterói anunciando sem cansar: “Gentileza gera gentileza”. “Só com gentileza”, dizia, “superamos a violência que se deriva do 'capeta capital'”. Inscreveu seus ensinamentos ligados à gentileza em mais de cinquenta pilastras do Viaduto do Caju, à entrada da cidade, recuperados sob a orientação do Prof. Leonardo Guelman, que lhe dedicou um rigoroso trabalho acadêmico, acompanhado de vídeos e um belíssimo CR-ROM com o título Universo Gentileza: a Gênese de um Mito Contemporâneo.


A crítica da modernidade não é monopólio dos mestres do pensamento acadêmico como Freud, com seu O Mal-estar na Civilização; ou a Escola de Frankfurt, com Horkheimer e o seu O Eclipse da Razão; ou mesmo toda a produção filosófica do Heidegger tardio. O Profeta Gentileza, representante do pensamento popular e cordial, chegou à mesma conclusão que esses mestres. Mas foi mais certeiro que ele ao propor a alternativa: a gentileza como irradiação do cuidado e da ternura essencial.

 

Tempo de Gentileza


    A dimensão assumida pelo Profeta e a recorrência à sua figura no imaginário cultural brasileiro nos levam a constatação de um Tempo de Gentileza, expressão distintiva de uma modalidade ética de vida, em meio a tantas tensões e contradições de nossa época.

Gentileza, patrimônio cultural e afetivo

O final dos anos oitenta e início dos noventa marcaram a consagração da obra de Gentileza. Seus escritos, ali colocados, criavam percepções e perguntas: quem os teria feito e porque? Outra parte da população que transitava diariamente pelo Caju, acostumou-se a ver Gentileza trabalhando sozinho, diariamente, sobre uma escada apoiada à pilastra.

Gentileza estabeleceu um vínculo afetivo com toda aquela região entre o Caju e a Rodoviária. Estes laços estenderam-se também às pessoas que lhe acenavam e o reconheciam como um símbolo de abnegação e generosidade.

    Concluída a obra, o alcance da sua inscrição territorial sobre a cidade torna-se impressionante. Como slides diurnos, seus escritos passam a constituir a maior manifestação de arte mural pública de caráter espontâneo no Rio de Janeiro. Sua nova atitude - de escriba da cidade - reaviva sua figura lendária e mitológica.

    Os escritos do Caju representam a obstinação e o desejo de um Profeta em fazer perenizar o seu verbo. A solução por ele encontrada mostra a agudez de seu senso estético. Pilastras de sustentação de um viaduto, lhe aparecem como tábuas de ensinamentos na cidade.

    Esta apropriação da paisagem, levada a diante nos seus escritos, marca, profundamente, uma mudança na apreensão da imagem daquele local. A partir da sua intervenção, seu Livro Urbano torna-se a própria referência daquele território da cidade.

 

Um patrimônio ameaçado é recuperado

Com o falecimento do Profeta, em maio de 1996, seus escritos não tiveram mais por quem, diretamente, lhes zelasse. Em agosto de 1997, uma ação equivocada da Companhia de Limpeza Urbana da cidade deixou ocultada quase a totalidade da sua obra. Sob o pretexto de limpar a cidade de pichações, seus escritos foram cobertos por uma demão de tinta cinza, deixando atônita e muda, boa parte da cidade que não entendeu as razões daquela atitude.

Na verdade, um silêncio cinza abateu-se sobre aquele território, criando um livro sem dizeres; um livro de páginas cinzas.

Um grupo de admiradores da obra do Profeta começou a discutir ações para a sua recuperação. Um período de chuvas, tal como uma providência dos céus, confirmou a suspeita de que nem tudo estava perdido: suas letras começavam a aflorar novamente sob o cinza.

Uma vez que as pilastras haviam sido cobertas com caiação, sua recuperação tornava-se uma possibilidade concreta; a cal poderia ser removida com uma lavagem adequada. Realizados alguns testes, confirmou-se a viabilidade da restauração da sua obra.

Entre a convicção de que a recuperação da obra de Gentileza era possível e o início dos trabalhos de restauração, transcorreram-se 18 meses.

Em janeiro de 1999 foi lançado o projeto Rio com Gentileza com a finalidade de desenvolver ações voltadas para a recuperação da obra do Profeta, associadas a uma campanha ética para a adoção da gentileza nas relações sociais da cidade. Entretanto, o início dos trabalhos só se daria nove meses depois. Diante de um momento de imobilidade total, arriscou-se uma estratégica "operação de luto" - embora a intenção igualmente fosse a de proteger as pilastras ao redor da Rodoviária, que vinham sofrendo ações de grafiteiros e pichadores. Assim, em dois finais de semana consecutivos de agosto de 1999, foram embrulhados, literalmente, os escritos murais de 15 pilastras com plástico preto. A reação não tardou. Amigos, estudantes e jornalistas começaram a manifestar-se descrevendo o ocorrido. As "pilastras pretas" começavam a se destacar no local, despertando o interesse não só da mídia, mas também de quem por ali, diariamente, circulava.

A restauração, efetivamente, só se iniciaria em setembro de 1999, numa iniciativa da Universidade Federal Fluminense em parceria com a Socicam (Rodoviária Novo Rio), Consórcio Novo Rio e Fosroc Reax.

 

Tempo de gerar gentileza

Procuraremos trazer agora para o leitor alguns fatos marcantes ligados à mobilização do projeto Rio com Gentileza, seus desdobramentos bem como a carga afetiva que se constituiu, nesse processo, em torno da figura de Gentileza.

O primeiro fator a nos mover em nossos trabalhos foi a própria força do profeta no imaginário popular do Rio de Janeiro e do Brasil. Falávamos em nossas reuniões do projeto desse afeto gratuito das pessoas pelo profeta, no simples fato de vê-lo nas ruas ou de cruzar com sua figura numa rua da cidade; afeto desinteressado gerado pelo que ele representa.

Como nos disse certa vez o antropólogo Arno Vogel: "a gentileza havia desaparecido há muito. O Gentileza, entretanto, continuava a apregoá-la, quando ela não era senão uma saudade no coração da metrópole".

Ao somarmos tantos esforços em nossos trabalhos, o fizemos ao modo de nosso Profeta, peregrinando, de forma insistente e persistente a muitos lugares sem perder a nossa determinação. Formamos um grupo inicial de trabalho, onde os artistas Dado Amaral e Simone Nascimento, que também conheceram Gentileza em vida, foram imprescindíveis articuladores no meio artístico, para, a partir dali, planejarmos as nossas estratégias. Quanto à possibilidade da restauração dos escritos, foi fundamental a participação da arquiteta Regina Prado, que nos assegurou, juntamente com técnicos de órgãos ligados ao Patrimônio cultural, a viabilidade concreta dos trabalhos.

Iniciamos as nossas ações em duas direções simultaneas : uma, visando sensibilizar as autoridades e a população para a recuperação de um patrimônio cultural que estava sendo ameaçado; e a outra, voltada para a questão ética da gentileza, no domínio das relações sociais.

Assim, em 20 de janeiro de 1999, dia de São Sebastião, padroeiro da cidade do Rio de Janeiro, oficializamos o Projeto Rio com Gentileza, recuperando simbolicamente a Pilastra 1. No mesmo dia, mais de cem artistas, sensibilizados e contagiados pela mensagem do Profeta, animavam com alegria, através da sua arte, a praça em frente à Rodoviária Novo Rio. Além da presença de familiares do Profeta, músicos e bandas, artistas mambembes, artistas circenses, poetas e estudantes, em meio a um colorido cenário circence enfeitado por carroças, bandeirolas, flores e faixas, atraíram os olhares de curiosos transeuntes e passageiros de ônibus. Nesta ocasião pudemos constatar claramente, ao sermos abordados por pessoas presentes que nos traziam os seus relatos, que o mito de Gentileza ainda habita vivamente o imaginário popular.
Isso nos fortaleceu a prosseguirmos em nossos propósitos, ampliando contatos nos vários setores da Prefeitura do Rio e junto à iniciativa privada. Após o apoio e o sinal verde da Pró-Reitoria de Extensão da UFF, através do Prof. Firmino Mársico, inciou-se, em setembro, a primeira fase dos trabalhos de restauração nas pilastras mais próximas à Rodoviária.

Paralelamente, foi elaborada uma extensa programação cultural condensada numa semana de outubro, período em que estariam sendo entregues à cidade, totalmente recuperadas, as primeiras 15 pilastras.
A programação da "Semana da Gentileza" contou com a adesão de artistas de expressão local e nacional, e a presença expressiva do público. A abertura desta semana aconteceu num domingo com a Caravana da Gentileza, uma caminhada na Praia de Copacabana por um Rio mais gentil, tendo como Padrinhos da Gentileza o carnavalesco Joãosinho Trinta e a atriz e cantora Zezé Motta, além da participação de vários artistas e movimentos sociais organizados.
A programação contou ainda com uma exposição na Rodoviária Novo Rio e um show na Praça XV, com a participação de várias bandas musicais e poetas.

A partir daí, recebemos o apoio efetivo da Secretaria Municipal de Cultura do Rio, necessário e fundamental para continuarmos o empreendimento dos trabalhos de restauração das pilastras restantes.

Foram, ao todo, nove meses de trabalhos exaustivos de restauração, em meio ao intenso tráfego de veículos, sobre o impacto constante da poluição ambiental e sonora. Em 6 de maio de 2000 foi entregue, em cerimônia oficial, com a presença de autoridades, artistas e público em geral, este imenso patrimônio cultural e afetivo da Cidade Maravilhosa.

 

Súmula dos trabalhos técnicos de restauração:


1. Visitas a técnicos e especialistas em restauração no âmbito do IPHAN para definição do modelo de restauração, bem como dos materiais e procedimentos a serem utilizados nesse trabalho.
2. estudo e reconhecimento dos elementos gráficos constitutivos da escritura de Gentileza, com vistas à sua reprodução. Pôde-se verificar, a partir da observação dos escritos, e de exame de material fotográfico dos 55 murais (realizado, antes da caiação, em 1995), a existência de um padrão de tipologia específica de letras e símbolos no local.
3. Remoção da camada de cal existente sobre as pinturas, através de lavagem, com água sem pressão e sabão neutro. Esta lavagem possibilitou o resgate dos elementos gráficos, quase em sua totalidade. Em duas pinturas (pilastras 8 e 14), que encontravam-se grafitadas, foi necessário o serviço de decapagem manual para que se pudesse reencontrar os escritos originais.
4. Repintura com tinta acrílica dos murais, inicialmente, a partir do fundo branco, seguido da recomposição das pautas (faixas) verde e amarela, e posteriormente, das letras e símbolos. Em alguns casos, fez-se necessária a reconstituição de trechos faltantes, com base na documentação iconográfica.
5. Aplicação de selador, protetivos anti-poluição e anti-pichação, à base de poliuretano, a partir de recomendação técnica e do fornecimento do material por representante especializado.
6. Equipe: Pesquisa e Coordenação geral: Leonardo Guelman; Consultoria de restauração: Regina Prado; Restauradora: Rosana Ricalde; Pintores/artistas plásticos: Felipe Barbosa e Simon Serra Grande: Assistentes de restauração: Areolindo Évora, Bruno César Euphrásio de Mello, Ivo Mattos Barreto Junior, Marcus José Sarmento Pereira e Michel Storck; Produção: Marianna Kutassy e Renata Blasi     
 

 

Novas ressonâncias

Os trabalhos de restauração já se aproximavam de sua finalização, e cumpria-se então uma direção do projeto, perseguida obstinadamente.

A outra vertente, porém, encontrava-se ainda por fazer: a adoção da gentileza como um novo paradigma nas relações humanas e sociais.
Vislumbrávamos um movimento multiplicador - o gerúndio do Profeta: gentileza gerando gentileza. Haveríamos de ser mais uma vez criativos... Fomos então surpreendidos ao tomarmos conhecimento de diversas iniciativas no meio artístico, enfocando o tema da gentileza.

Sugeriram-nos estes novos movimentos e adesões o prenúncio de que é tempo de reassumir gentileza.

Gentileza, o Profeta que vem inspirando, ao longo dos anos, cineastas, poetas, músicos e videomakers, reaparece agora na obra de outros artistas de alcance nacional e internacional.

Contagiada pelo Profeta desde a sua adolescência, quando se defrontava com a sua figura nas ruas da cidade, Marisa Monte se propôs a prestar-lhe uma homenagem, justamente no momento do ocaso da obra do Profeta. Afetada também pelo episódio do apagamento dos escritos, compôs a música Gentileza , onde expressa a importância da sua mensagem. Na música, aludindo aos tempos velozes da cidade contemporânea, Marisa sugere uma parada, para que possamos ter um tempo para ler as "letras e as palavras de Gentileza".

Os temas do circo, do mundo como escola (Escrito 55) e a parábola do livro e da sabedoria aparecem tratados com singeleza. A questão da gentileza é, de novo, um despertar para atitudes com as quais lidamos diariamente. Diz Marisa à jornalista Paula Alzugaray (Isto é Gente): "vivemos nas cidades rodeados de indiferença. O que gera a violência é o anonimato no meio da multidão"... "Gentileza pregava o amor fraterno e propunha às pessoas que dessem atenção umas às outras e criassem intimidade, o que faz muito bem à saúde. Um Profeta é isso: alguém que ilumina as pessoas".

Na sua série de shows, inicialmente no Rio de Janeiro, seguindo depois para várias cidades do país, a sensibilidade de Marisa para estas questões vem atraindo a atenção para a figura do Profeta como símbolo da gentileza. Outro cantor brasileiro a lhe dedicar anteriormente uma música, foi Gonzaguinha (LP Cavaleiro Solitário) que percebeu também, a profundidade e a sinceridade das palavras do Profeta. Falava Gonzaguinha ao apresentar a música: "Dizem que ele é um louco; eu digo que ele é um Profeta".

Em 2000, o carnavalesco Joãosinho Trinta, resolveu homenageá-lo com o enredo Gentileza X O Profeta do Fogo pela G.R.E.S Acadêmicos do Grande Rio, no carnaval do ano seguinte.. Entendendo a gentileza e a alegria como energias transformadoras do Terceiro Milênio, Joãosinho exaltou a grandeza do desprendimento do Profeta, vendo-o em proximidade à São Francisco. Esta aproximação foi também observada por Leonardo Boff, num outro contexto. Gentileza inspira o "mito do cuidado", o "Princípio feminino" e uma nova relação com a Natureza "sucateada pelo CAPETA CAPITAL".

Quanto a aura de Gentileza, diz Joãosinho: "O Profeta Gentileza, pela sua candura, como São Francisco poderia ser chamado de Irmão Sol e Irmão Lua." No enredo, Joãosinho abordou também o tema do circo e do fogo como símbolo da justiça e da transformação do mundo.

Aludindo ao poeta Marco Antônio Saraiva, o carnavalesco vê no Profeta alguém que sofria vendo uma nova "Idade Mídia" repetindo a antiga Idade Média ou Idade das Trevas. Para Joãosinho, tal como naquele período medieval, repete-se hoje a tristeza do passado: confrontam-se forças antagônicas, lutas de poderosos dentro de palácios enquanto o povo sofre as misérias, as fomes e as pestes. Assumindo a sabedoria universal de Gentileza, Joãosinho espera que os ensinamentos do Profeta repousem na mente e no coração de todos os brasileiros e que suas palavras sejam, para sempre, lembradas.

Essas homenagens e releituras de Gentileza e da gentileza nos dão conta da sua força e latência na simbólica da cultura brasileira. A importância da adesão de grandes artistas só fez reviver a força expressiva do Profeta. Esse novo Tempo de Gentileza trouxe também a convicção da importância da preservação da sua obra, uma vez restaurada. 

 

A salvaguarda de um patrimônio

Em fevereiro de 2000, a Universidade Federal Fluminense encaminhou ao Departamento Geral do Patrimônio Cultural (DGPC) e ao Conselho Municipal de Patrimônio Cultural do Município do Rio de Janeiro, o pedido de tombamento de toda a obra gráfica de Gentileza no Viaduto do Caju. Após longos estudos e análises, em dezembro do mesmo ano, foi finalmente tombado, o Livro Urbano de Gentileza, com seus 56 escritos murais. Essa decisão significou um passo importante para a salvaguarda e permanência da obra de Gentileza na paisagem e no imaginário do Rio de Janeiro e do País. Desde então compete à municipalidade zelar por sua preservação e manutenção, tarefa que precisa ser assegurada e garantida para além do seu tombamento.
Curiosamente, no ano anunciado em que o "diabo perde o seu mandato", assegura-se, em grande parte, o legado de Gentileza transposto em sua mensagem:
No mesmo ano, outro importante reconhecimento: o Instituto dos Arquitetos do Brasil, concedeu o Prêmio Urbanidade 2000, ao projeto Rio com Gentileza, pelo conjunto de suas ações de preservação da mensagem e da obra do Profeta.

 

Outras homenagens ao Profeta

Seria-nos impossível abarcar aqui as várias homenagens feitas ao Profeta Gentileza e os inúmeros trabalhos que ele inspirou, sem mesmo se dar conta. Aos poucos nos chegam novas histórias e novos relatos de suas aparições inusitadas em manifestações públicas, de flashes do cotidiano registrando sua presença e incursões pelo país. Uma delas é recente e nos foi enviada pelo Fred de Mirandópolis, grande admirador do Profeta, e mostra Gentileza na passeata dos cem mil, no Rio de Janeiro em 1968 (cf. Enciclopédia Barsa pgs )

As homenagens multiplicam-se: o pintor Naldo Navajas de Ouro Preto, terra querida do Profeta, nos envia um retrato onde o profeta se faz modelo para o pintor. Da pintura aos cordelistas com Thomas Back e Edmilson Santini e para o teatro com Cláudio Mendes e, também com Josué ... . Destes, a cantadores e artistas populares como a Cia.

Carroça de Mamulengos que assume a gentileza como forma de vida. Na dança, no vídeo e na moda surgem novas "gerações" da gentileza, assim como em pesquisas e trabalhos acadêmicos. Somente o fascínio gerado pela imagem e pelo carisma de Gentileza pode explicar esta efervescência, que não vem de hoje.

Não poderíamos deixar de registrar mais algumas destas incursões sobre a obra do Profeta, e que nos levam a voltar a alguns anos. Destacamos aqui o importante trabalho de interpretação do grafismo de Gentileza feito por Vanessa Bittencourt, realizado como trabalho de conclusão de curso em Desenho Industrial e que resultou na Exposição Documental Gentileza Gera Gentileza, realizada na UERJ em fins de 1995, e o vídeo Gentileza de Luiz Eduardo Amaral (Dado) e Vinícius Reis, lançado no Centro Cultural Banco do Brasil (Rio) no mesmo ano.

Nesse mesmo período, Leonardo Guelman e Neimyr Guaycurus lançavam o vídeo Univvverrsso Gentileza no Centro Cultural Pascoal Carlos Magno, em Niterói. Estes eventos contaram com a presença do Profeta, que contagiou o público com a sua magia. No ano seguinte, em maio de 1996, Gentileza viria a falecer em Mirandópolis.

Em 1997 Leonardo Guelman conclui sob a orientação do teólogo e Professor Leonardo Boff sua dissertação de mestrado em filosofia na UERJ, intitulada UNIVVVERRSSO GENTILEZA: a Gênese de um Mito Contemporâneo. A simbologia trinitária do Profeta, sua denúncia do Capeta-Capital e a afinidade de Gentileza com o esprit de finesse pascalino, levaram também Boff a descrevê-lo em vários artigos e em seu livro "Saber Cuidar" (1999) como uma das figuras exemplares do cuidado, ao lado de grandes místicos da humanidade.

O cineasta Dado afirma que Gentileza é uma espécie de ímã no (seu) imaginário. A força dessa recorrência levou-o a uma nova imersão fílmica na obra do Profeta: o curta "Por Gentileza". Desde 2002, o cineasta vem se empenhando para a conclusão de sua trilogia do Profeta - em seu desejo de levar às telas o filme "O Profeta Gentileza contra o Capeta Capital".

De lá pra cá, outros campos vêm se semeando. Na área da educação e do fortalecimento da cidadania o tema vem se ampliando, como se verifica no trabalho com alunos do ensino médio e fundamental de escolas do Rio de Janeiro, coordenado pela professora Danielle Bessa. (2004-2005).

Algumas datas tornaram-se motivo para que muitas dessas ações se (re) encontrassem. Assim em 2007, ano em que o Profeta completaria 90 anos, realizou-se uma comemoração festiva na Rodoviária Novo Rio, contando com a participação de poetas, músicos, atores, professores, alunos da rede pública de ensino e do grande público passante. Num grande telão o público assistia também ao filme de Dado Amaral e ao clipe da música de Marisa Monte. Iniciou-se nessa data a lavagem simbólica dos escritos nas pilastras no entorno da Rodoviária, pela Comlurb, tornada parceira da iniciativa. Em 2008, as atividades repetiram-se, contando, desta vez, com a participação dos artistas circenses integrantes da ong crescer e viver.

No conjunto de releituras da obra e da estética do Profeta, o crescer e viver, importante instituição ligada ao circo social no Brasil, escolheu como espetáculo para 2008, o desafio de levar o UNIVVVERRSO GENTILEZA para a linguagem circense. Tal desafio nos entusiasma também, não apenas pela referência a esta pesquisa, mas também por devolver o Profeta Gentileza ao solo de onde emergiu: a mitopoiesis do circo-mundo.

Outros movimentos e leituras, certamente ainda virão, ampliando e trazendo novos significados para sua obra. Cabe-nos aprender, com cada um destes, novas abordagens do Profeta e de sua semiótica.

Mas nesse transcurso, estaremos, também, diante de novos desafios, pois, todo o alcance e "visibilidade" da obra de Gentileza atraiu abordagens e "utilizações" que, em alguns casos, se mostram em desacordo com o sentido mesmo de sua mensagem; ocasos serão, também, inevitáveis em tempos de banalização e apropriação inadequada de conteúdos. Tal circunstância não nos deixará indiferente. Nossa reserva e olhar crítico podem converter-se, se necessário, na práxis e na verve da denúncia, bem à maneira de Gentileza.

 

Uma ética e uma política da memória

Em tempos "espetaculares" de banalizações e recortes de superfície é preciso revelar, continuamente, a profundidade e a força expressiva do legado Gentileza em sua capacidade de fazer-se dizer como linguagem viva (inesgotável). Seria esta uma verdadeira reinvenção de sua inventividade e talvez, seja esta a vereda aberta pelo próprio profeta no convite para que dele e de sua mensagem nos valêssemos.

 

Usem amorrr e gentileza!

Não há nada de mais extraordinário no cotidiano, e despojado como expressão de simplicidade do que esse "modo de usar" oferecido às pessoas. É nesse sentido que a simbólica do Profeta não se circunscreve a limites utilitários, embora estes, por vezes, venham a se utilizar das suas expressões.

Se a memória é também um modo de usar, é preciso cuidar dos sentidos que fazemos dela. Uma matriz simbólica como a gentileza, inscrita na figura do Profeta, embora guarde uma dimensão arquetípica e mitológica - como desenvolvemos em outros momentos desse estudo - não é algo imutável ou restrito a um determinado tempo e espaço. É justamente pelo fato de incorrerem atualizações e "apropriações" sobre esta matriz, que seus sentidos entram em jogo e que impasses ético-estéticos aí se colocam.

Por isso, podemos falar da gestão da memória como uma tarefa política, ou seja, como uma política do sentido, pois são os usos sígnicos que se desdobram e se sobrepõem a uma determinada matriz, que revelam e atualizam a cada tempo, seus significados.

Se uma expressão simbólica nos inspira o cuidado, do mesmo modo, devemos ter cuidado ao nos valermos dela. Desse modo, tocamos um desafio que envolve as símbólicas do mundo, diante do curso das (re)significações.

Trata-se, pois, de procurar resguardar nas expressões simbólicas sua própria profundidade, diante de forças que atuam tal como um empuxo, tencionando-as para uma superfície sem fundo, como imagens, cada vez mais planas e opacas. O mesmo se processa na produção do imaginário: profundidades que se comprimem e se achatam, convertendo o que é denso e experencial, num valor abstraído da sua própria vivência.

O símbolo remete à ex-peri-ência, ou seja, à possibilidade de apreensão vivencial e profunda de seus sentidos, o que se distingue muito de um simples valor de referência. Enxergar unicamente um valor, onde antes se via a profundidade de uma experiência, é assimilar a hegemonia de uma epistème rasa. E não é de se espantar que a palavra (etmo) valor tenha sido cooptada nesse processo, o que não deixa de indicar um modo de fazer submeter todas as formas de valoração (ética, social, política e estética...) ao valor, por excelência, do capital.

Por isso, a gentileza não é meramente um valor a ser estimulado e divulgado, mas um modo de existir a ser experenciado; mais do que um valor reificável, que se destaca da relação das pessoas como um objeto-marca, ela deve ser resguardada como um sentido aberto à experiência do mundo, que converge de sua exemplaridade mítica, mas que ao mesmo tempo, se funda na concretude das sociabilidades.

Essa dupla natureza de convergência e emergência no uso da gentileza revela a expressão de sua atemporalidade. Talvez esteja aí uma das chaves para entendê-la como "objeto de patrimônio". O que se ressalta em Gentileza e na sua produção é o fato de sua presença e mensagem nos confrontarem com o desafio da convivialidade, essência da matéria ética.

Por isso, quando ele exalta poeticamente, em convite, o uso da gentileza, ele nos lança no desafio cotidiano do ser humano, como um patamar mínimo de compreensão da vida, que nos leva também a não usarmos problemas e pobrezas. Nesse sentido, seu legado é muito mais um modo de usar e de conduzir-se na vida, do que um modo de lembrar, ligado a uma tradição materializada.

Há duas dimensões do legado de Gentileza: uma primeira, que resulta da sua produção simbólica e artística presente nos viadutos do Caju (Livro Urbano), bem como em manuscritos e peças de sua indumentária; e uma segunda, de âmbito imaterial, que é o pano de fundo que dá sentido à concretude de sua produção, que se revela na expressão de sua ética e religiosidade. Pensar em Gentileza como um patrimônio do Rio de Janeiro e do país é pensar no sentido dessa imaterialidade que anima sua produção material.

De um plano chegamos a outro, pois tanto o Livro Urbano e outras "materializações" do Profeta nos colocam em contato com a sua mensagem de cunho universal, quanto sua ética e sua exemplaridade, como um modo de conduzir-se diante da vida, se concretizam em sua figura, escritos e obras.

Em tempos em que também se discute a imaterialidade do das expressões culturais, o Profeta Gentileza caracteriza uma singularidade pela amplitude de sua inserção neste tema e pelos sentidos que se entrelaçam na sua consideração como patrimônio cultural, artístico, afetivo e por tudo que sua figura, vivamente, representa e atualiza.
Pois não se trata, como ressaltamos, de um legado deixado lá atrás como expressão de outro tempo, ligado, tão somente à singularidade de um personagem e de uma escritura; trata-se de um sentido, que a partir destes, tem a capacidade de se (re)atualizar a cada momento e de produzir convergências no real, elaborando sínteses que podem variar de tempo em tempo.

A gentileza será sempre a afirmação de um ethos em resposta às crises relacionais, mas apontará, primeiramente, um modo de caminhar no mundo. Para além de qualquer valor documental e sociológico, o caráter distintivo de sua consagração como patrimônio, resulta de sua natureza essencialmente ética. É esse o sentido principal da imaterialidade da sua expressão, não aqui descrita em ritos ou folguedos, mas tendo como referência uma disposição da sensibilidade humana.

Tanto o profeta quanto a disposição que o designa, a gentileza, caracterizam expressões elevadas do patrimônio imaterial do Rio de Janeiro e do país, por tudo que simbolicamente inspiram, relacionam e iluminam, como uma espécie de numina; por tudo que resguardam e protegem no humano - em si mesmo; por uma ética a ser apre(e)ndida como forma de convivialidade; como um Princípio de desprendimento das amarras do mundo do favor e da obrigação; como reserva de utopia no mundo e afirmação generosa da alegria; como desígnio de grazzie e, fundamentalmente, como dimensão do noos (espírito) que a tudo recobre: o humano, a natureza e o cosmos.